quarta-feira, 17 de junho de 2009

Orgulho nacional!

Bom, como alguns sabem, eu estou escrevendo para uma revista aqui na Austrália. Radar Magazine. Meu primeiro artigo foi sobre a Silvana Lima, um perfil. Lembro quando a Silvana chegou no circuito nacional de surfe... um furacão!!! Atualmente brigando pelo título mundial, representando muito bem o nosso país no WCT... só temos que nos orgulhar dessa menina. Queria prestar aqui uma homenagem à Sil, mas como não posso colocar na íntegra a matéria que fiz com ela, segue a entrevista que não foi publicada. Depois de saber um pouco mais sobre a vida dessa cearense gente boa, fiquei ainda mais orgulhosa por ter vivido um pouco o início de sua carreira.

Raiana: Como era a sua vida antes do surf?
Silvana Lima: Eu gostava muito de jogar bola na praia, andar de bicicleta com os meus amigos eu também olhava carro na rua para guanhar um trocado.(risos)

R: Com quantos anos você começou a surfar?
S.L.: Com os sete anos de idade! Comecei a surfar melhorzinho... (risos)

R: Como o surf entrou na sua vida? Quem te apresentou a primeira prancha de surf e te instigou a entrar no mar?
S.L.: Os meus irmãos já surfavam e também eu morava de frente para praia. A minha brincadeira era sempre dentro da água, minha prancha era uma tábua de madeira velha que achei na praia. A minha primeira prancha de verdade foi o meu irmão mais velho que me deu no meu aniversario de 12 anos de idade.

R: Qual foi o seu primeiro campeonato como profissional?
S.L.: Em 2002, o Circuito Petrobras em Ipanema. Ganhei a Pro, ganhei a Open e ganhei junto com as meninas do Nordeste os de Equipe também. (risos)

R: Até pouco tempo, o surf feminino no Brasil era pouco reconhecido e o nível técnico das meninas ainda muito fraco. Uma ou outra despontava no cenário e o título acabava sempre nas mãos de Andrea Lopes, Tita Tavares, Jacqueline Silva ou alguma “zebra” da ocasião. Quando você entrou no Circuito Profissional brasileiro, foi como se um furacão tivesse passado por ali. Lembro que quem não queria ficar para trás começou a treinar muito forte porque “a Silvana veio com tudo”. Quais foram as primeiras impressões do Tour nacional e queria saber se você se acha responsável por essa evolução das meninas no Brasil (até mesmo em relação ao apoio das marcas e criação de um Circuito exclusivamente feminino)?
S.L.: Eu me acho um pouco responsável sim, porque como eu vim com um surf mais radical, agressivo, as meninas viram que teriam que arriscar em mannobras mais fortes ou então ficariam para trás. Porém eu acho que essa nova geração aí já está vindo com tudo (risos). Com relação ao circuito feminino espero que as marcas vejam o retorno que dou à Billabong (quando faço resultado estou na mídia) e com isso se interessem cada vez mais pelas meninas, pois temos no Brasil grandes nomes no surfe feminino.

R: Por falarmos em marcas e apoios, queria que você falasse sobre a sua relação com o shaper Udo Bastos. É verdade que ele apostou em você desde o início e foi por conta da ajuda dele que você resolveu morar no Rio de Janeiro e investir sério no surf como profissão?
S.L.: Sim, O Udo foi uma pesssoa muito importante no começo da minha carreira (e é até hoje). Foram também os meninos do Ceará que já moravam no Rio que falaram para ele que tinha uma garota que surfava muito no Cearé e que se ele investisse talvez seria muito bom para os dois (muitos risos). Aí o Udo acreditou nos meninos, que deram o número do telefone da minha mãe. Foi muito difícil para minha mãe, porque eu era a filha mais nova, mas ela acabou entendendo que ele era um cara bom, acreditou nele. Os meus dois amigos estavam indo para o Rio de avião, o Udo comprou minha passagem e pediu que os meninos me levassem até ele. Chegando no Rio de Janeiro tive muito medo de tudo, era calada e bem fechada com todos. O Udo era como um pai, nada me faltou, fazia minhas pranchas e eu só surfava ... foi aí que tudo começou. (risos) Considero ele como um pai, temos a mesma aproximação até hoje...

R: É nítida a sua transformação física depois da entrada no WCT. Como você tem se preparado para as competições?
S.L.: Depois da minha cirurgia no joelho eu percebi que precisava muito de massa muscular e também ficar bem fisicamente. Eu comecei a frequentar muito a academia, musculação pesada com um personal trainer numa academia especializada em atletas, a Victor Gym no Rio de Janeiro. Também faço muito trabalho na bola... É um treinamento que uso o peso de meu corpo somente. Também faço um trabalho muito bom com fisioterapeuta na areia da praia e surfo duas ou três vezes por dia. Alimentação também é muito importante e sou rígida nisso. Tomo suplementos alimentares 4 vezes por dia. É uma rotina pesada (risos) mas já acostumei, faz parte de minha vida.

R: 2009 é a sua quarta temporada no Tour. Em 2006 você foi Rookie of the year, 2007 terminou na terceira posição, 2008 foi vice e o início da temporada 2009 tem sido iluminado. Lembro que ano passado a maioria de suas declarações (depois de tantos vice-campeonatos) era “não sei o que falta para ganhar, sempre fico muito perto, mas não sai o título”. Na primeira etapa do WCT na Gold Coast você arrancou o primeiro 10 do ano e na segunda etapa em Bells foi a grande campeã. O que mudou desde sua primeira participação no Tour em 2006 para hoje e como tem sido o início de temporada 2009?
S.L.: Mudou muito, pricipalmente minha experiência. Com tantos segundos lugares a minha vontade de vencer era muito grande, mas faltava um detalhe que até hoje nem sei qual. Porém a minha vitória veio, e veio na hora certa, no melhor cenário. Estou muito feliz e realizada. Para completar meu sonho vou em busca de ser a melhor de 2009!

R: Bells Beach é um templo sagrado para o surf mundial. O primeiro campeonato mundial da história aconteceu naquelas direitas. Eu vi as imagens do evento e a emoção tomou conta de você após a vitória. Qual a importância do evento e o que passou na sua cabeça quando você levantou o troféu (e quase deixou cair, de tão pesado... risos)?
S.L.: Nossa! Foi uma emoção muito boa porque foi minha primeira vitória e também no compeonato mais importante que todo mundo sonha em ganhar. Levantar aquele sino, mesmo que seja pesado, (risos) foi a melhor coisa da minha vida! Bells Beach é nota 10 e eu graças a Deus pude sentir na pele como é esse 10.

R: Quando você entrou no WCT ninguém te conhecia direito. Após 4 anos de Tour, você é uma das mais temidas nas baterias e conquistou o respeito de todos com seu carisma e seu surf progressivo. Como é a vida de uma das principais estrelas da primeira divisão do surf mundial?
S.L.: Minha vida é normal, como de todo mundo, treino bastante durante o dia. À noite fico em casa vendo filmes, brincando com meus 3 cães (Mel, Nina e Onda) e vejo minhas imagens de meus free surf de todos os dias.

R: Sei que você sempre preocupou-se em ajudar pessoas carentes com o resultado do seu trabalho. O que você procura proporcionar-lhes?
S.L.: Procuro tentar ajudar no que posso. Cada vez mais estou procurando fazer trabalhos sociais. Já fiz alguns como aquele lá na Bahia. Passo minhas férias sempre na Bahia pela região de Itacaré. Fiz um projeto em parceria com uma loja de surfe: as pessoas levavam 2kg de alimentos trocados por um cupom que concorreria a uma prancha minha. Depois reuní todos os alimentos e doei para um abrigo de velhinhos e uma creche de crianças carentes. Agora que está chegando o inverno já estamos bolando um projeto de doar cobertores para menores carentes... e com isso vou tentando amenizar o sofrimento destas pessoas que hoje são como um dia eu já fui.

R: Você veio de uma cidade pequena, no nordeste brasileiro (uma das áreas mais pobres do Brasil), conquistou o mundo, está buscando o título mundial e é uma das favoritas pela mídia especializada, conseguiu realizar boa parte do seu sonho e atualmente inspira milhares de meninas pelo mundo. Além do título mundial, falta ainda realizar algo profissionalmente?
S.L.: Quero apenas ser canmpeã mundial e continuar fazendo meus projetos sociais.

R: Qual a importância do contato com seus fãs e admiradores através do seu blog num dos veículos de comunicação mais importantes do Brasil (Globo)?
S.L.: Para mim é muito importante, porque ali sei como sou realmente vista pelos brasileiros. Respondo um a um, quero estar perto deles, é um carinho muito grande, e também posso incentivar cada vez mais a meninas do sur. Têm algumas que me pedem informações de pranchas, e assim vamos trocando informações.

R: Para encerrar, quando os primeiros campeonatos de surf femininos começaram a acontecer pelo mundo, o critério de julgamento era muito simples, pois as meninas mal ficavam de pé sobre a prancha. Atualmente seu estilo é reconhecido pela progressividade, fluidez e pelos vôos. A última campanha da Billabong que eu vi (acho que na Surfer) era um aéreo seu! Na seção perfil no site da ASP, sua manobra favorita está descrita como frontside air. O que você acha da evolução do surf feminino (em relação as manobras) e o que ainda irá mudar daqui pra frente.
S.L.: Acho que cada vez mais a meninas devem buscar radicalizar, se aproximarem mais do risco das manobras do masculino. Os juízes gostam, é lindo de se ver e eu amo!


Sil fazendo o que mais gosta (foto Manoel Campos)

4 comentários:

DSC disse...

parabéns pela entrevista...muito boa....a silvana com certeza vai ser campeã mundial....ela tem a radicalidade e a marra que nós procuramos em um ídolo.

GD

Marília Porciúncula disse...

Parabéns....passei a conhecer mais a Silvana...que bacana o trabalho dela...muito bonito!!

Hugo disse...

Raiana, parabéns pelo blog, ótima redação! bjs.

Luana Barreto disse...

Amigaaa, nao sabia q vc tava escrevendo p/ uma revistaaa que legaaalll Biaaa, parabenss e boa sorte sempree!!!
Bjoooooo e mtas saudadesss