quinta-feira, 21 de maio de 2009

A primeira vez é sempre inesquecível!

Você lembra da sua primeira vez?
Como poderia esquecer, né?!
Pois é, eu estava aqui de bobeira em casa e comecei a pensar na primeira vez que eu... dei um autógrafo!!! Na verdade essa foi a primeira e única, mas valeu muito a pena. Voltando 12 anos no tempo, na época em que eu ainda me aventurava nas competições, estava no palanque de uma etapa do WQS na Barra da Tijuca (também foi o meu primeiro e único WQS) quando uma mulher caminhou em minha direção e sorriu:
- Oi Raiana, tudo bom? Tem uma pessoa que quer o seu autógrafo. Você pode vir comigo?
Eu fui sem pestanejar (aos 11 anos de idade o que a gente mais quer é se sentir importante) e logo percebi que a pessoa que me abordou estava acompanhada de uma das grandes figuras do surfe brasileiro: Octaviano “Taiu” Bueno!


Peguei essa foto do Taiu no blogue do Rico

Fiquei com um friozinho na barriga e ainda não sei se foi por causa do autógrafo ou porque ele seria para o Taiu. Bom, o que interessa é que eu estava ali, no auge das minhas canelas finas e cabelo parafinado (cara, confesso que muitas vezes eu carreguei minha prancha na cabeça até a água só para aquela pontinha de parafina que ficou protuberante depois do raspador cair no meu cabelo e dar aquela “clareada do sol”) dando autógrafo depois de competir numa etapa do WQS cheia de astros do Tour (tenho que escanear uma dessas fotos). Foi engraçado!
Primeiro porque eu não sabia como escrever o meu nome de uma forma estilosa que se parecesse com um autógrafo. Segundo porque eu fiquei nervosa por estar dando meu primeiro autógrafo. Terceiro porque eu não sabia o que escrever na dedicatória (foi pedida uma). Nossa!!! Quanta emoção!! (risos)
O resultado foi um "Raiana Monteiro" bem mixuruca com letras perfeitinhas resultado de muitas horas naqueles cadernos de caligrafia (minha mãe se orgulhava!!).
O mais legal é que depois de todo o fiasco eu recebi alguns elogios do Taiu e, pra fechar, ele disse no meu ouvido:
- Quando você ficar famosa eu vou vender esse autógrafo e ficar rico!
Bom, Taiu, foi mal te decepcionar assim... mas, como o ditado já diz, “o que vale é a intenção”.

P’s: Em novembro de 1991, um mês antes de completar 29 anos, o surfista profissional Octaviano "Taiu" Bueno sofreu um acidente enquanto surfava na Praia da Paúba, litoral norte de São Paulo. Ele fraturou o pescoço e ficou tetraplégico, além de ficar entre a vida e a morte. O cara continua fissurado pelo surfe e a última vez que o encontrei foi durante uma etapa do Circuito Profissional, onde ele fazia participação especial na locução do evento.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Museu do Surf (ficou no sonho)

Eu, como muitos cariocas, nasci na famosa Casa de Saúde São José, no Humaitá, mas com um pai apaixonado por surfe, com uma semana de vida já estava morando com toda a família em Saquarema.

Um dos berços do surfe no Brasil, minha "terrinha" dispensa apresentações para os mais fissurados (beleza, abro aqui um parênteses para os marinheiros de primeira viagem. Saquarema está há cerca de 100Km da Capital Rio de Janeiro, na Região dos Lagos, e é considerada uma das ondas mais perfeitas e pesadas do Brasil - resumindo).

Foi lá onde aprendi a surfar, onde meu irmão aprendeu a surfar e voltou a morar, onde meu pai "fica doente" algumas vezes por ano só para não ter que trabalhar e assim conseguir pegar Itaúna clássico em plena terça-feira sem o crowd do final de semana (acabei de ler um email dele me dizendo que tomou 4 pontos na perna por conta de uma bicada. Ter pai radical dá nisso...)



Frontside afiado do "Vovô Jaca"


Bom, com toda essa identificação à pequena cidade, fui convidada a fazer parte de um projeto para criação do Museu do Surfe. Logo que ingressei na faculdade de jornalismo meu pai me colocava essa pilha de criarmos um Museu para homenagear a cidade que nos deu tantas alegrias, como passar o final de tarde assistindo o pôr do sol ímpar no point com vista para a famosa igrejinha.

Um antigo morador nos propôs cobrir todas as despesas do Museu, enquanto eu faria a pesquisa e os textos, meu pai ajudaria no planejamento, e a arquitetura ficaria por conta de um outro amigo. Tudo pronto! A Prefeitura Municipal nos decepcionou...

Antes da resposta que culminou com o não desenvolvimento do Museu, eu já tinha começado a pesquisar um pouco mais a origem do surfe no local. Vasculhando os arquivos de vídeo do Woohoo sobre a Historia do Surf Brasileiro (com a permisão dos meus diretores Ricardo Bocão e Antonio Ricardo), achei uma fita com sonoras do Evandro Mesquita.

Vale aqui a reprodução:

Pesquisa Museu do Surfe
Fita 83 – Evandro Mesquita

“Saquarema foi um ponto maravilhoso de surfe e de vida... A gente fazia a nossa própria comida... O Otávio e o Rato compraram a patente da “Wax made”(não sei se está certo o nome), eles eram os industriais... a galera era toda largadona em Saquá e tinham 2 amigos industriais que tinham grana... a gente fazia parafina juntos, senão não podia dormir na oficina deles... Eu desenhava, então eu fazia uns rótulos da parafina. Dia de semana pouquíssima gente dentro d´água, porque teve uma época de local, de porrada, gente pra caramba, fiquei com o pé atrás... Saquarema era sobrevivência, surfe light, natural."

"... Saquarema também teve um lado musical muito forte, que rolava depois das ondas, depois da praia; tinha uma pelada lá que era o clássico “Peixe com Farinha X Pão com Água”. Os pescadores chamavam a gente de pão com água, pão com guaraná, que era o que o pessoal comia na padaria depois do surfe... O som era muito importante. Paulo Proença “Rato”, Otávio pacheco, Aroldo, Bocão podiam viajar pelo mundo e voltavam com fitas, com sons diferentes. Bob Marley foi um clássico... era um som tropical, guerreiro, tocávamos nas fogueiras.... Cuidado com a alimentação, contato espiritual com Deus, era tudo bonito, maneiro..."

"... Toda noite rolavam visitas. As pessoas iam nas casas das outras levar som e era chocante. Tinha um puteiro chamado “Trapézio” que era brega, mas tinha um microfone, um palquinho, uma cerveja gelada... Ficávamos tocando a noite toda quando não tinha onda. Zeca Mendigo, Lui, Rui, João Ricardo, Danilo Gordo, Ângela Ro Ro... toda essa galera tocou lá."

"... No fim de semana chegavam as gatas... todo mundo ficava ansioso pra chegar logo o fim de semana... Eu até fiz uma música para Saquarema que contava bem isso.
Tem também o papo do disco voador em Saquarema... A gente viu o disco voador em Massambaba, numa das noites maravilhosas. Teve gente que deu voltas em disco, teve gente que nunca voltou (risos)."

"... Os luais de Saquarema... Eurico, Danilo, João, Lui, Beto... Depois dos luais tinham os filmes de surfe, era outra coisa muito importante. Quando chegava com alguém, acho que o Rico trouxe os primeiros, ele cobrava ingresso, era um buxixo... E junto com os filmes de surfe tinham as trilhas sonoras, todo mundo caía de 4 com as trilhas... Hendrix, Hot Tuna, Zeppelin, Janes Joplin, etc. Tudo maravilhoso sexualmente, musicalmente e socialmente porque era a nossa tribo numa cidade pequena que a gente dominava..."


Nada mais a declarar... So queria agradecer ao meu pai por ser tão vidrado por esse lugar. OBRIGADA PAI!!!

Para ver algumas fotos de Saquarema "das antigas" é só clicar aqui e ir direto para o site do Píer de Ipanema (tem fotos de Ipanema e de Saquá).

sexta-feira, 8 de maio de 2009



ALÔ MEU RIO DE JANEIRO... AQUELE ABRAÇO!!!

Da terra dos cangurus (ou dos tubarões) para o mundo..

Quando decidi passar um tempo fora do país, um dos primeiros lugares que me vieram cabeça foi a Austrália. A terra dos cangurus - ou seria dos tubarões? - me fascina desde que eu comecei a conhecer um pouco mais da história do surfe, dos grandes nomes do esporte preferido dos reis polinésios, das primeiras edições do Circuito Mundial...

Bom, não é novidade para muitas pessoas dizer que a Austrália é "um país que respira surfe". Lugar comum ou não, o fato é que impressiona! Se você entrar no site da ASP hoje verá que o atual número 1 na lista dos melhores do mundo é aussie (Parko, diga-se de passagem, brilhante nesse início de temporada). Peter Townend, também da Austrália, levou o caneco do primeiro ano do Circuito, em 1976. (Vale abrir um parêntese aqui para relembrar que, apesar da intervenção do sul-africano Shaun Tomson em 77 no topo do pódio, até 1984 a bandeira que figurou no degrau mais alto foi a da Austrália.)

Wayne "Presidente da ASP" Bartholomew, Mark Richards, Tom Carroll, Damien Hardman, Barton Lynch e Mick Fanning foram os aussies que dominaram algumas temporadas do "Tour dos Sonhos" (e mesmo quando nem era a ASP quem homologava os campeonatos, e sim a IPS - International Professional Surfers), transformando o país numa das maiores potências do surfe.

Para os viciados em água salgada de plantão, calma! Não estou esquecendo de um dos maiores ídolos das pranchinhas... Mark Occhilupo! Era exatamente aí onde eu queria chegar. Dono do mundo em 1999, o título do Occy tem um gostinho especial para a minha família.

Quem se lembra da conquista do "Touro Indomável" no Rio de Janeiro ?? Pois é, logo no começo da competição, um susto!! Um moleque de apenas 17 anos, competindo como convidado do evento em seu primeiro ano como profissional, quase colocou água no champagne do veterano. Raoni Monteiro (meu irmão, com muito orgulho!!) chegou sem pretensão nenhuma e levou a bateria na primeira rodada, jogando o cara para a repescagem. Já na terceira fase, Raoni não foi páreo para a experiência do australiano e encerrou sua participação por alí, deixando finalmente o caminho de Occy aberto para o tão esperando título mundial.

(Para quem quiser ver um vídeo do Raoni comentando as baterias desse evento, só clicar aqui ir direto para o Youtube)

Mas... Por que o título mundial foi tão esperado???

Após transformar-se em um dos maiores nomes do cenário internacional do surfe, Occy entrou numa bela duma depressão e as competições eram as últimas coisas em que ele queria ouvir falar...

De carona em um dos meus textos para o Woohoo (estou com saudades da minha Redação querida), segue um pouquinho dessa fase Occy de ser.

"Em 1987 Mark Occhilupo começou a mostrar sinais de instabilidade. Mudou-se temporariamente para a costa Norte de Oahu, no Havaí, anunciou sua aposentadoria e logo voltou atrás, e já não vencia mais campeonatos como quando surgiu para o mundo do esporte. Occy começava a perder o foco e o interesse pelas competições. De uma vida leve, baseada na Yoga, ele passou a consumir cada vez mais cigarros, bebidas alcoólicas e outras substâncias prejudiciais a sua saúde. A morte de seu pai foi outro fator que o fez hibernar por algum tempo, como ele mesmo mais tarde declarou. Com o passar dos meses, o grande fenômeno australiano e provável campeão mundial já tinha ultrapassado os 100 Kg e desabou para o número 490 no ranking, abandonando de vez o Tour em 1990.


Várias tentativas de retorno ao Circuito foram frustradas. Em 92, ano em que a ASP criou as divisões WCT e WQS, Occy chegou a vencer um evento do Tour de acesso em Newquay, na Inglaterra, mas nada o fazia sair daquela depressão. Em 1993 ele casou com Beatrice Ballardie, construiu uma casa perto de Kirra, na Austrália e, no ano seguinte, começou a sua batalha para recuperar a forma física. Num trabalho de apoio feito pelo videomaker Jack McCoy, em conjunto com seu terapeuta e a Billabong, ele começou a perder peso lentamente e declarou que esse tempo fora do Tour lhe serviu para ter uma visão mais clara de seu objetivo: para dominar o Circuito Mundial, precisava voltar de forma espetacular.


Seu patrocinador percebeu que tinha em sua equipe um dos melhores surfistas de todos os tempos e não queria perdê-lo. Foi então que Occy gravou os vídeos “Green Iguana” e “Pump”, onde rodava o mundo mostrando o melhor do seu free surf. Esse vídeos rodaram o mundo inteiro e a comunidade do esporte percebeu que, mesmo afastado das competições, Occy ainda estava quebrando. Esse incentivo foi muito positivo para a recuperação da auto estima do cara.


Foi então que em 1997 ele completou uma temporada inteira do calendário da ASP, feito que não acontecia há 10 anos, terminando como vice do virtual eneacampeão mundial, o norte-americano Kelly Slater. De maneira espetacular, Mark Occhilupo estava retornando ao time de astros da Association of Surfing Professionals!"

Bom, foi aí que o título veio, em 99, e após isso, eu só tenho a reverenciar o cara! Com aparições em dúzias de vídeos de surfe, autobiografia ("Occy, o ano do Touro"), fotos em revistas especializadas, apresentando de programa de TV, etc, etc, etc... eu gostaria de concluir que....

... fazendo parte das competições pelo mundo desde os 15 anos de idade, o australiano Mark Occhilupo redefiniu a alta performance no esporte por pelo menos duas gerações!!! A facilidade para manobrar de backside transforma a plasticidade de seu repertório num espetáculo à parte.

Eu só espero encontrar o cara qualquer dia desses surfando em alguma praia perto da minha nova casa... (ainda tenho chances por 1 ano)