quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Naftalina

Em maio de 1997 a praia de Capão da Canoa, litoral do Rio Grande do Sul, recebeu pela primeira vez na história uma etapa do Circuito Brasileiro de Surfe Amador.

Lembro que eu era "alternate" da equipe feminina do Rio de Janeiro (nunca fui muito boa e geralmente ficava com a vaga de "alternate") e desembarcamos todos no aeroporto de Porto Alegre logo após o término da prova catarinense do Circuito (naquela época a Joaquina ainda era civilizada). Tínhamos mais uma hora e pouquinho de viagem até Capão e, divididos em duas vans e um carro, colocamos os vinte e poucos integrantes da equipe carioca com suas malas e pranchas rumo ao destino final. A aventura começou aí...

Com a vontade de chegar logo no hotel, descarregar a babagem, checar o mar e conhecer a cidade, acho que os moleques passaram as fitas nas pranchas no teto das vans de qualquer jeito e foram logo brigar pela janela dentro daquelas duas latas de sardinha (se não sofrer não tem graça). POuco tempo depois, TODAS as pranchas de uma das vans levantaram vôo na estrada e 80% do equipamento foi "atropelado" por caminhões, carros, caíram nas valas entre uma pista e outra e causaram um transtorno geral na rodovia. Só dava pra ver os rostos assustados... Era prancha com marca de pneu de caminhão de um lado, quilha quebrada do outro, bico partido dalí, cara de choro de lá...

Pois bem, chegamos à Capão da Canoa, completamente desfalcados!
O segundo susto: Maio. Começo de inverno. Frio. Cidade Fantasma!!!
Fomos ver o mar, quase flat. A sala de jogos do hotel reinou! Era uma partida de ping pong entre um treino e outro. Reunião de equipe, todo mundo com cara de bunda. Pensaram até num baixo-assinado para não rolar mais nenhuma etapa por lá.
Teve até um boato de que um dos integrantes da equipe de Santa Catarina, Netuno Santana (acho que era esse o sobrenome), tinha sido mordido por um cação.
Show de horror!

No dia seguinte Capão amanheceu storm! Três arrebentações, correnteza cruel, os meninos pegavam carona na carroça na areia entre uma onda e outra pra voltar pra frente do palanque.
Aventura! Eu desisti de competir. As meninas estavam sofrendo no espumeiro marrom.

Lembro que, quando me mudei pra Porto Alegre (entre ídas e vindas de volta pro Rio, fiquei por lá uns 6 anos), todas as vezes que ouvia falar de capão da Canoa, lembrava dessa etapa do Brasileiro Amador. Foi meio traumatizante.
Tempos depois, em 2002, fui competir o Interassociações de Surfe em Tramandaí pela equipe de... Capão da Canoa! Ironia do destino, hãn?! Ainda por cima ganhei o campeonato (acho que foi a minha segunda vitória das três da minha carreira). Fui convidada pelos irmãos Fornari para fazer parte da equipe... Bons tempos!

Nessa época eu já tinha parado de competir e fui mais por diversão mesmo. As meninas eram super pilhadas e sempre faltava mais uma pra fechar a final (era sempre só final da categoria feminino). Os integrantes das equipes na beira do mar incentivando as meninas era o melhor... Parecia coisa séria! Era caldo atrás de caldo e quando alguém surfava uma onda "muito boa" até saía um 3,5. O que valia era a intensão. Tinha que entrar no clima e remar muito! No final tudo deu certo...



Eu no degrau mais alto, enrolada com a bandeira de Capão da Canoa (entrei no clima, né?!)


"Minha" equipe!

É isso... apesar de todo o perrengue do começo, tudo acabou bem em Capão.