quinta-feira, 14 de maio de 2009

Museu do Surf (ficou no sonho)

Eu, como muitos cariocas, nasci na famosa Casa de Saúde São José, no Humaitá, mas com um pai apaixonado por surfe, com uma semana de vida já estava morando com toda a família em Saquarema.

Um dos berços do surfe no Brasil, minha "terrinha" dispensa apresentações para os mais fissurados (beleza, abro aqui um parênteses para os marinheiros de primeira viagem. Saquarema está há cerca de 100Km da Capital Rio de Janeiro, na Região dos Lagos, e é considerada uma das ondas mais perfeitas e pesadas do Brasil - resumindo).

Foi lá onde aprendi a surfar, onde meu irmão aprendeu a surfar e voltou a morar, onde meu pai "fica doente" algumas vezes por ano só para não ter que trabalhar e assim conseguir pegar Itaúna clássico em plena terça-feira sem o crowd do final de semana (acabei de ler um email dele me dizendo que tomou 4 pontos na perna por conta de uma bicada. Ter pai radical dá nisso...)



Frontside afiado do "Vovô Jaca"


Bom, com toda essa identificação à pequena cidade, fui convidada a fazer parte de um projeto para criação do Museu do Surfe. Logo que ingressei na faculdade de jornalismo meu pai me colocava essa pilha de criarmos um Museu para homenagear a cidade que nos deu tantas alegrias, como passar o final de tarde assistindo o pôr do sol ímpar no point com vista para a famosa igrejinha.

Um antigo morador nos propôs cobrir todas as despesas do Museu, enquanto eu faria a pesquisa e os textos, meu pai ajudaria no planejamento, e a arquitetura ficaria por conta de um outro amigo. Tudo pronto! A Prefeitura Municipal nos decepcionou...

Antes da resposta que culminou com o não desenvolvimento do Museu, eu já tinha começado a pesquisar um pouco mais a origem do surfe no local. Vasculhando os arquivos de vídeo do Woohoo sobre a Historia do Surf Brasileiro (com a permisão dos meus diretores Ricardo Bocão e Antonio Ricardo), achei uma fita com sonoras do Evandro Mesquita.

Vale aqui a reprodução:

Pesquisa Museu do Surfe
Fita 83 – Evandro Mesquita

“Saquarema foi um ponto maravilhoso de surfe e de vida... A gente fazia a nossa própria comida... O Otávio e o Rato compraram a patente da “Wax made”(não sei se está certo o nome), eles eram os industriais... a galera era toda largadona em Saquá e tinham 2 amigos industriais que tinham grana... a gente fazia parafina juntos, senão não podia dormir na oficina deles... Eu desenhava, então eu fazia uns rótulos da parafina. Dia de semana pouquíssima gente dentro d´água, porque teve uma época de local, de porrada, gente pra caramba, fiquei com o pé atrás... Saquarema era sobrevivência, surfe light, natural."

"... Saquarema também teve um lado musical muito forte, que rolava depois das ondas, depois da praia; tinha uma pelada lá que era o clássico “Peixe com Farinha X Pão com Água”. Os pescadores chamavam a gente de pão com água, pão com guaraná, que era o que o pessoal comia na padaria depois do surfe... O som era muito importante. Paulo Proença “Rato”, Otávio pacheco, Aroldo, Bocão podiam viajar pelo mundo e voltavam com fitas, com sons diferentes. Bob Marley foi um clássico... era um som tropical, guerreiro, tocávamos nas fogueiras.... Cuidado com a alimentação, contato espiritual com Deus, era tudo bonito, maneiro..."

"... Toda noite rolavam visitas. As pessoas iam nas casas das outras levar som e era chocante. Tinha um puteiro chamado “Trapézio” que era brega, mas tinha um microfone, um palquinho, uma cerveja gelada... Ficávamos tocando a noite toda quando não tinha onda. Zeca Mendigo, Lui, Rui, João Ricardo, Danilo Gordo, Ângela Ro Ro... toda essa galera tocou lá."

"... No fim de semana chegavam as gatas... todo mundo ficava ansioso pra chegar logo o fim de semana... Eu até fiz uma música para Saquarema que contava bem isso.
Tem também o papo do disco voador em Saquarema... A gente viu o disco voador em Massambaba, numa das noites maravilhosas. Teve gente que deu voltas em disco, teve gente que nunca voltou (risos)."

"... Os luais de Saquarema... Eurico, Danilo, João, Lui, Beto... Depois dos luais tinham os filmes de surfe, era outra coisa muito importante. Quando chegava com alguém, acho que o Rico trouxe os primeiros, ele cobrava ingresso, era um buxixo... E junto com os filmes de surfe tinham as trilhas sonoras, todo mundo caía de 4 com as trilhas... Hendrix, Hot Tuna, Zeppelin, Janes Joplin, etc. Tudo maravilhoso sexualmente, musicalmente e socialmente porque era a nossa tribo numa cidade pequena que a gente dominava..."


Nada mais a declarar... So queria agradecer ao meu pai por ser tão vidrado por esse lugar. OBRIGADA PAI!!!

Para ver algumas fotos de Saquarema "das antigas" é só clicar aqui e ir direto para o site do Píer de Ipanema (tem fotos de Ipanema e de Saquá).

4 comentários:

FUN disse...

Iraduuuuuuuu
TA add lá na lista, vou acompanhar tudo por aqui.
boas aventuras.......
bjs

Unknown disse...

lindo texto amiga!!! Parabéns!!
beijos e saudades
Alice

Ronaldo Monteiro disse...

Caramba assim vc me faz chorar...que lembranças maravilhosas...que filha maravilhosa,me orgulho muito disso tudo

Marco Telles disse...

Olá Raiana,

Primeiro agradeço seu link para nosso Pier de Ipanema e parabenizo teu texto.
Segundo, posso reproduzir no Pier ?

Bjs
Coyote