segunda-feira, 3 de maio de 2010

Botando a boca!!

Joel Parkinson em entrevista à revista Sport & Style (abril 2010)

"Hate that", Joel Parkinson says. "People say, 'Oh, you're such a natural; your surfing is so cruisy and whatever.' I hate it. It's just the way a person shapes up when they're playing their sport. People can think you're not trying. They think you don't have to train and practise; they think you just go out there and it happens. Like, in my own head, I feel like I'm trying really hard. It feels like I'm hanging on as tight as I can, but somehow it doesn't look like that to the people who are watching. You lose a heat and everyone reckons you weren't having a go. All nice and cruisy - it doesn't always feel nice and cruisy. I hate it when people say that."

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Naftalina

Em maio de 1997 a praia de Capão da Canoa, litoral do Rio Grande do Sul, recebeu pela primeira vez na história uma etapa do Circuito Brasileiro de Surfe Amador.

Lembro que eu era "alternate" da equipe feminina do Rio de Janeiro (nunca fui muito boa e geralmente ficava com a vaga de "alternate") e desembarcamos todos no aeroporto de Porto Alegre logo após o término da prova catarinense do Circuito (naquela época a Joaquina ainda era civilizada). Tínhamos mais uma hora e pouquinho de viagem até Capão e, divididos em duas vans e um carro, colocamos os vinte e poucos integrantes da equipe carioca com suas malas e pranchas rumo ao destino final. A aventura começou aí...

Com a vontade de chegar logo no hotel, descarregar a babagem, checar o mar e conhecer a cidade, acho que os moleques passaram as fitas nas pranchas no teto das vans de qualquer jeito e foram logo brigar pela janela dentro daquelas duas latas de sardinha (se não sofrer não tem graça). POuco tempo depois, TODAS as pranchas de uma das vans levantaram vôo na estrada e 80% do equipamento foi "atropelado" por caminhões, carros, caíram nas valas entre uma pista e outra e causaram um transtorno geral na rodovia. Só dava pra ver os rostos assustados... Era prancha com marca de pneu de caminhão de um lado, quilha quebrada do outro, bico partido dalí, cara de choro de lá...

Pois bem, chegamos à Capão da Canoa, completamente desfalcados!
O segundo susto: Maio. Começo de inverno. Frio. Cidade Fantasma!!!
Fomos ver o mar, quase flat. A sala de jogos do hotel reinou! Era uma partida de ping pong entre um treino e outro. Reunião de equipe, todo mundo com cara de bunda. Pensaram até num baixo-assinado para não rolar mais nenhuma etapa por lá.
Teve até um boato de que um dos integrantes da equipe de Santa Catarina, Netuno Santana (acho que era esse o sobrenome), tinha sido mordido por um cação.
Show de horror!

No dia seguinte Capão amanheceu storm! Três arrebentações, correnteza cruel, os meninos pegavam carona na carroça na areia entre uma onda e outra pra voltar pra frente do palanque.
Aventura! Eu desisti de competir. As meninas estavam sofrendo no espumeiro marrom.

Lembro que, quando me mudei pra Porto Alegre (entre ídas e vindas de volta pro Rio, fiquei por lá uns 6 anos), todas as vezes que ouvia falar de capão da Canoa, lembrava dessa etapa do Brasileiro Amador. Foi meio traumatizante.
Tempos depois, em 2002, fui competir o Interassociações de Surfe em Tramandaí pela equipe de... Capão da Canoa! Ironia do destino, hãn?! Ainda por cima ganhei o campeonato (acho que foi a minha segunda vitória das três da minha carreira). Fui convidada pelos irmãos Fornari para fazer parte da equipe... Bons tempos!

Nessa época eu já tinha parado de competir e fui mais por diversão mesmo. As meninas eram super pilhadas e sempre faltava mais uma pra fechar a final (era sempre só final da categoria feminino). Os integrantes das equipes na beira do mar incentivando as meninas era o melhor... Parecia coisa séria! Era caldo atrás de caldo e quando alguém surfava uma onda "muito boa" até saía um 3,5. O que valia era a intensão. Tinha que entrar no clima e remar muito! No final tudo deu certo...



Eu no degrau mais alto, enrolada com a bandeira de Capão da Canoa (entrei no clima, né?!)


"Minha" equipe!

É isso... apesar de todo o perrengue do começo, tudo acabou bem em Capão.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

4th Sydney Latin American Film Festival



Bom, Sydney continua bombando culturalmente e desta vez sobrou pra mim (que bom)!!! Fui convidada a fazer as traduções inglês/português dos releases da 4a edição do Festival de Filmes Latino Americano e trabalhar junto aos organizadores do evento nos dias em que o Brasil for representado no telão.

As exibições serão realizadas entre os dias 2 e 13 de setembro, e pela primeira vez serão premiados o Melhor Longa Metragem, o Melhor Documentário e o Melhor Curta Metragem de acordo com a preferência do público.

Entre todos os trabalhos estão os brasileiros "The Beetle KFZ-1348", "Saens Pena Square" e "FilmeFobia".

Amanhã é noite Cubana no Tom Mann Theatre (136 Chalmers St, Surry Hills - Opposite Central Station). Para maiores indformações, clique aqui

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A change for the better

Lembro que aos 5 anos de idade meu irmão, surfando há 1 ano, deu sua primeira entrevista para um grande jornal de veiculação nacional.
22 anos depois, com alguns títulos na bagagem e muitos campeonatos nas costas, aquele menino que dizia gostar dos discos da Xuxa já apareceu estampado em dezenas de artigos espalhados por todo o mundo.

Ao chegar numa loja de uma das maiores marcas de surfwear do mundo, mais uma daquelas cenas que se transformaram em cotidiano da irmã de um dos maiores surfistas do Brasil (eu acho).


Tive que registrar o momento!!
Saudades de raberar meu irmão nas marolinhas do Point

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Orgulho nacional!

Bom, como alguns sabem, eu estou escrevendo para uma revista aqui na Austrália. Radar Magazine. Meu primeiro artigo foi sobre a Silvana Lima, um perfil. Lembro quando a Silvana chegou no circuito nacional de surfe... um furacão!!! Atualmente brigando pelo título mundial, representando muito bem o nosso país no WCT... só temos que nos orgulhar dessa menina. Queria prestar aqui uma homenagem à Sil, mas como não posso colocar na íntegra a matéria que fiz com ela, segue a entrevista que não foi publicada. Depois de saber um pouco mais sobre a vida dessa cearense gente boa, fiquei ainda mais orgulhosa por ter vivido um pouco o início de sua carreira.

Raiana: Como era a sua vida antes do surf?
Silvana Lima: Eu gostava muito de jogar bola na praia, andar de bicicleta com os meus amigos eu também olhava carro na rua para guanhar um trocado.(risos)

R: Com quantos anos você começou a surfar?
S.L.: Com os sete anos de idade! Comecei a surfar melhorzinho... (risos)

R: Como o surf entrou na sua vida? Quem te apresentou a primeira prancha de surf e te instigou a entrar no mar?
S.L.: Os meus irmãos já surfavam e também eu morava de frente para praia. A minha brincadeira era sempre dentro da água, minha prancha era uma tábua de madeira velha que achei na praia. A minha primeira prancha de verdade foi o meu irmão mais velho que me deu no meu aniversario de 12 anos de idade.

R: Qual foi o seu primeiro campeonato como profissional?
S.L.: Em 2002, o Circuito Petrobras em Ipanema. Ganhei a Pro, ganhei a Open e ganhei junto com as meninas do Nordeste os de Equipe também. (risos)

R: Até pouco tempo, o surf feminino no Brasil era pouco reconhecido e o nível técnico das meninas ainda muito fraco. Uma ou outra despontava no cenário e o título acabava sempre nas mãos de Andrea Lopes, Tita Tavares, Jacqueline Silva ou alguma “zebra” da ocasião. Quando você entrou no Circuito Profissional brasileiro, foi como se um furacão tivesse passado por ali. Lembro que quem não queria ficar para trás começou a treinar muito forte porque “a Silvana veio com tudo”. Quais foram as primeiras impressões do Tour nacional e queria saber se você se acha responsável por essa evolução das meninas no Brasil (até mesmo em relação ao apoio das marcas e criação de um Circuito exclusivamente feminino)?
S.L.: Eu me acho um pouco responsável sim, porque como eu vim com um surf mais radical, agressivo, as meninas viram que teriam que arriscar em mannobras mais fortes ou então ficariam para trás. Porém eu acho que essa nova geração aí já está vindo com tudo (risos). Com relação ao circuito feminino espero que as marcas vejam o retorno que dou à Billabong (quando faço resultado estou na mídia) e com isso se interessem cada vez mais pelas meninas, pois temos no Brasil grandes nomes no surfe feminino.

R: Por falarmos em marcas e apoios, queria que você falasse sobre a sua relação com o shaper Udo Bastos. É verdade que ele apostou em você desde o início e foi por conta da ajuda dele que você resolveu morar no Rio de Janeiro e investir sério no surf como profissão?
S.L.: Sim, O Udo foi uma pesssoa muito importante no começo da minha carreira (e é até hoje). Foram também os meninos do Ceará que já moravam no Rio que falaram para ele que tinha uma garota que surfava muito no Cearé e que se ele investisse talvez seria muito bom para os dois (muitos risos). Aí o Udo acreditou nos meninos, que deram o número do telefone da minha mãe. Foi muito difícil para minha mãe, porque eu era a filha mais nova, mas ela acabou entendendo que ele era um cara bom, acreditou nele. Os meus dois amigos estavam indo para o Rio de avião, o Udo comprou minha passagem e pediu que os meninos me levassem até ele. Chegando no Rio de Janeiro tive muito medo de tudo, era calada e bem fechada com todos. O Udo era como um pai, nada me faltou, fazia minhas pranchas e eu só surfava ... foi aí que tudo começou. (risos) Considero ele como um pai, temos a mesma aproximação até hoje...

R: É nítida a sua transformação física depois da entrada no WCT. Como você tem se preparado para as competições?
S.L.: Depois da minha cirurgia no joelho eu percebi que precisava muito de massa muscular e também ficar bem fisicamente. Eu comecei a frequentar muito a academia, musculação pesada com um personal trainer numa academia especializada em atletas, a Victor Gym no Rio de Janeiro. Também faço muito trabalho na bola... É um treinamento que uso o peso de meu corpo somente. Também faço um trabalho muito bom com fisioterapeuta na areia da praia e surfo duas ou três vezes por dia. Alimentação também é muito importante e sou rígida nisso. Tomo suplementos alimentares 4 vezes por dia. É uma rotina pesada (risos) mas já acostumei, faz parte de minha vida.

R: 2009 é a sua quarta temporada no Tour. Em 2006 você foi Rookie of the year, 2007 terminou na terceira posição, 2008 foi vice e o início da temporada 2009 tem sido iluminado. Lembro que ano passado a maioria de suas declarações (depois de tantos vice-campeonatos) era “não sei o que falta para ganhar, sempre fico muito perto, mas não sai o título”. Na primeira etapa do WCT na Gold Coast você arrancou o primeiro 10 do ano e na segunda etapa em Bells foi a grande campeã. O que mudou desde sua primeira participação no Tour em 2006 para hoje e como tem sido o início de temporada 2009?
S.L.: Mudou muito, pricipalmente minha experiência. Com tantos segundos lugares a minha vontade de vencer era muito grande, mas faltava um detalhe que até hoje nem sei qual. Porém a minha vitória veio, e veio na hora certa, no melhor cenário. Estou muito feliz e realizada. Para completar meu sonho vou em busca de ser a melhor de 2009!

R: Bells Beach é um templo sagrado para o surf mundial. O primeiro campeonato mundial da história aconteceu naquelas direitas. Eu vi as imagens do evento e a emoção tomou conta de você após a vitória. Qual a importância do evento e o que passou na sua cabeça quando você levantou o troféu (e quase deixou cair, de tão pesado... risos)?
S.L.: Nossa! Foi uma emoção muito boa porque foi minha primeira vitória e também no compeonato mais importante que todo mundo sonha em ganhar. Levantar aquele sino, mesmo que seja pesado, (risos) foi a melhor coisa da minha vida! Bells Beach é nota 10 e eu graças a Deus pude sentir na pele como é esse 10.

R: Quando você entrou no WCT ninguém te conhecia direito. Após 4 anos de Tour, você é uma das mais temidas nas baterias e conquistou o respeito de todos com seu carisma e seu surf progressivo. Como é a vida de uma das principais estrelas da primeira divisão do surf mundial?
S.L.: Minha vida é normal, como de todo mundo, treino bastante durante o dia. À noite fico em casa vendo filmes, brincando com meus 3 cães (Mel, Nina e Onda) e vejo minhas imagens de meus free surf de todos os dias.

R: Sei que você sempre preocupou-se em ajudar pessoas carentes com o resultado do seu trabalho. O que você procura proporcionar-lhes?
S.L.: Procuro tentar ajudar no que posso. Cada vez mais estou procurando fazer trabalhos sociais. Já fiz alguns como aquele lá na Bahia. Passo minhas férias sempre na Bahia pela região de Itacaré. Fiz um projeto em parceria com uma loja de surfe: as pessoas levavam 2kg de alimentos trocados por um cupom que concorreria a uma prancha minha. Depois reuní todos os alimentos e doei para um abrigo de velhinhos e uma creche de crianças carentes. Agora que está chegando o inverno já estamos bolando um projeto de doar cobertores para menores carentes... e com isso vou tentando amenizar o sofrimento destas pessoas que hoje são como um dia eu já fui.

R: Você veio de uma cidade pequena, no nordeste brasileiro (uma das áreas mais pobres do Brasil), conquistou o mundo, está buscando o título mundial e é uma das favoritas pela mídia especializada, conseguiu realizar boa parte do seu sonho e atualmente inspira milhares de meninas pelo mundo. Além do título mundial, falta ainda realizar algo profissionalmente?
S.L.: Quero apenas ser canmpeã mundial e continuar fazendo meus projetos sociais.

R: Qual a importância do contato com seus fãs e admiradores através do seu blog num dos veículos de comunicação mais importantes do Brasil (Globo)?
S.L.: Para mim é muito importante, porque ali sei como sou realmente vista pelos brasileiros. Respondo um a um, quero estar perto deles, é um carinho muito grande, e também posso incentivar cada vez mais a meninas do sur. Têm algumas que me pedem informações de pranchas, e assim vamos trocando informações.

R: Para encerrar, quando os primeiros campeonatos de surf femininos começaram a acontecer pelo mundo, o critério de julgamento era muito simples, pois as meninas mal ficavam de pé sobre a prancha. Atualmente seu estilo é reconhecido pela progressividade, fluidez e pelos vôos. A última campanha da Billabong que eu vi (acho que na Surfer) era um aéreo seu! Na seção perfil no site da ASP, sua manobra favorita está descrita como frontside air. O que você acha da evolução do surf feminino (em relação as manobras) e o que ainda irá mudar daqui pra frente.
S.L.: Acho que cada vez mais a meninas devem buscar radicalizar, se aproximarem mais do risco das manobras do masculino. Os juízes gostam, é lindo de se ver e eu amo!


Sil fazendo o que mais gosta (foto Manoel Campos)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A primeira vez é sempre inesquecível!

Você lembra da sua primeira vez?
Como poderia esquecer, né?!
Pois é, eu estava aqui de bobeira em casa e comecei a pensar na primeira vez que eu... dei um autógrafo!!! Na verdade essa foi a primeira e única, mas valeu muito a pena. Voltando 12 anos no tempo, na época em que eu ainda me aventurava nas competições, estava no palanque de uma etapa do WQS na Barra da Tijuca (também foi o meu primeiro e único WQS) quando uma mulher caminhou em minha direção e sorriu:
- Oi Raiana, tudo bom? Tem uma pessoa que quer o seu autógrafo. Você pode vir comigo?
Eu fui sem pestanejar (aos 11 anos de idade o que a gente mais quer é se sentir importante) e logo percebi que a pessoa que me abordou estava acompanhada de uma das grandes figuras do surfe brasileiro: Octaviano “Taiu” Bueno!


Peguei essa foto do Taiu no blogue do Rico

Fiquei com um friozinho na barriga e ainda não sei se foi por causa do autógrafo ou porque ele seria para o Taiu. Bom, o que interessa é que eu estava ali, no auge das minhas canelas finas e cabelo parafinado (cara, confesso que muitas vezes eu carreguei minha prancha na cabeça até a água só para aquela pontinha de parafina que ficou protuberante depois do raspador cair no meu cabelo e dar aquela “clareada do sol”) dando autógrafo depois de competir numa etapa do WQS cheia de astros do Tour (tenho que escanear uma dessas fotos). Foi engraçado!
Primeiro porque eu não sabia como escrever o meu nome de uma forma estilosa que se parecesse com um autógrafo. Segundo porque eu fiquei nervosa por estar dando meu primeiro autógrafo. Terceiro porque eu não sabia o que escrever na dedicatória (foi pedida uma). Nossa!!! Quanta emoção!! (risos)
O resultado foi um "Raiana Monteiro" bem mixuruca com letras perfeitinhas resultado de muitas horas naqueles cadernos de caligrafia (minha mãe se orgulhava!!).
O mais legal é que depois de todo o fiasco eu recebi alguns elogios do Taiu e, pra fechar, ele disse no meu ouvido:
- Quando você ficar famosa eu vou vender esse autógrafo e ficar rico!
Bom, Taiu, foi mal te decepcionar assim... mas, como o ditado já diz, “o que vale é a intenção”.

P’s: Em novembro de 1991, um mês antes de completar 29 anos, o surfista profissional Octaviano "Taiu" Bueno sofreu um acidente enquanto surfava na Praia da Paúba, litoral norte de São Paulo. Ele fraturou o pescoço e ficou tetraplégico, além de ficar entre a vida e a morte. O cara continua fissurado pelo surfe e a última vez que o encontrei foi durante uma etapa do Circuito Profissional, onde ele fazia participação especial na locução do evento.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Museu do Surf (ficou no sonho)

Eu, como muitos cariocas, nasci na famosa Casa de Saúde São José, no Humaitá, mas com um pai apaixonado por surfe, com uma semana de vida já estava morando com toda a família em Saquarema.

Um dos berços do surfe no Brasil, minha "terrinha" dispensa apresentações para os mais fissurados (beleza, abro aqui um parênteses para os marinheiros de primeira viagem. Saquarema está há cerca de 100Km da Capital Rio de Janeiro, na Região dos Lagos, e é considerada uma das ondas mais perfeitas e pesadas do Brasil - resumindo).

Foi lá onde aprendi a surfar, onde meu irmão aprendeu a surfar e voltou a morar, onde meu pai "fica doente" algumas vezes por ano só para não ter que trabalhar e assim conseguir pegar Itaúna clássico em plena terça-feira sem o crowd do final de semana (acabei de ler um email dele me dizendo que tomou 4 pontos na perna por conta de uma bicada. Ter pai radical dá nisso...)



Frontside afiado do "Vovô Jaca"


Bom, com toda essa identificação à pequena cidade, fui convidada a fazer parte de um projeto para criação do Museu do Surfe. Logo que ingressei na faculdade de jornalismo meu pai me colocava essa pilha de criarmos um Museu para homenagear a cidade que nos deu tantas alegrias, como passar o final de tarde assistindo o pôr do sol ímpar no point com vista para a famosa igrejinha.

Um antigo morador nos propôs cobrir todas as despesas do Museu, enquanto eu faria a pesquisa e os textos, meu pai ajudaria no planejamento, e a arquitetura ficaria por conta de um outro amigo. Tudo pronto! A Prefeitura Municipal nos decepcionou...

Antes da resposta que culminou com o não desenvolvimento do Museu, eu já tinha começado a pesquisar um pouco mais a origem do surfe no local. Vasculhando os arquivos de vídeo do Woohoo sobre a Historia do Surf Brasileiro (com a permisão dos meus diretores Ricardo Bocão e Antonio Ricardo), achei uma fita com sonoras do Evandro Mesquita.

Vale aqui a reprodução:

Pesquisa Museu do Surfe
Fita 83 – Evandro Mesquita

“Saquarema foi um ponto maravilhoso de surfe e de vida... A gente fazia a nossa própria comida... O Otávio e o Rato compraram a patente da “Wax made”(não sei se está certo o nome), eles eram os industriais... a galera era toda largadona em Saquá e tinham 2 amigos industriais que tinham grana... a gente fazia parafina juntos, senão não podia dormir na oficina deles... Eu desenhava, então eu fazia uns rótulos da parafina. Dia de semana pouquíssima gente dentro d´água, porque teve uma época de local, de porrada, gente pra caramba, fiquei com o pé atrás... Saquarema era sobrevivência, surfe light, natural."

"... Saquarema também teve um lado musical muito forte, que rolava depois das ondas, depois da praia; tinha uma pelada lá que era o clássico “Peixe com Farinha X Pão com Água”. Os pescadores chamavam a gente de pão com água, pão com guaraná, que era o que o pessoal comia na padaria depois do surfe... O som era muito importante. Paulo Proença “Rato”, Otávio pacheco, Aroldo, Bocão podiam viajar pelo mundo e voltavam com fitas, com sons diferentes. Bob Marley foi um clássico... era um som tropical, guerreiro, tocávamos nas fogueiras.... Cuidado com a alimentação, contato espiritual com Deus, era tudo bonito, maneiro..."

"... Toda noite rolavam visitas. As pessoas iam nas casas das outras levar som e era chocante. Tinha um puteiro chamado “Trapézio” que era brega, mas tinha um microfone, um palquinho, uma cerveja gelada... Ficávamos tocando a noite toda quando não tinha onda. Zeca Mendigo, Lui, Rui, João Ricardo, Danilo Gordo, Ângela Ro Ro... toda essa galera tocou lá."

"... No fim de semana chegavam as gatas... todo mundo ficava ansioso pra chegar logo o fim de semana... Eu até fiz uma música para Saquarema que contava bem isso.
Tem também o papo do disco voador em Saquarema... A gente viu o disco voador em Massambaba, numa das noites maravilhosas. Teve gente que deu voltas em disco, teve gente que nunca voltou (risos)."

"... Os luais de Saquarema... Eurico, Danilo, João, Lui, Beto... Depois dos luais tinham os filmes de surfe, era outra coisa muito importante. Quando chegava com alguém, acho que o Rico trouxe os primeiros, ele cobrava ingresso, era um buxixo... E junto com os filmes de surfe tinham as trilhas sonoras, todo mundo caía de 4 com as trilhas... Hendrix, Hot Tuna, Zeppelin, Janes Joplin, etc. Tudo maravilhoso sexualmente, musicalmente e socialmente porque era a nossa tribo numa cidade pequena que a gente dominava..."


Nada mais a declarar... So queria agradecer ao meu pai por ser tão vidrado por esse lugar. OBRIGADA PAI!!!

Para ver algumas fotos de Saquarema "das antigas" é só clicar aqui e ir direto para o site do Píer de Ipanema (tem fotos de Ipanema e de Saquá).

sexta-feira, 8 de maio de 2009



ALÔ MEU RIO DE JANEIRO... AQUELE ABRAÇO!!!

Da terra dos cangurus (ou dos tubarões) para o mundo..

Quando decidi passar um tempo fora do país, um dos primeiros lugares que me vieram cabeça foi a Austrália. A terra dos cangurus - ou seria dos tubarões? - me fascina desde que eu comecei a conhecer um pouco mais da história do surfe, dos grandes nomes do esporte preferido dos reis polinésios, das primeiras edições do Circuito Mundial...

Bom, não é novidade para muitas pessoas dizer que a Austrália é "um país que respira surfe". Lugar comum ou não, o fato é que impressiona! Se você entrar no site da ASP hoje verá que o atual número 1 na lista dos melhores do mundo é aussie (Parko, diga-se de passagem, brilhante nesse início de temporada). Peter Townend, também da Austrália, levou o caneco do primeiro ano do Circuito, em 1976. (Vale abrir um parêntese aqui para relembrar que, apesar da intervenção do sul-africano Shaun Tomson em 77 no topo do pódio, até 1984 a bandeira que figurou no degrau mais alto foi a da Austrália.)

Wayne "Presidente da ASP" Bartholomew, Mark Richards, Tom Carroll, Damien Hardman, Barton Lynch e Mick Fanning foram os aussies que dominaram algumas temporadas do "Tour dos Sonhos" (e mesmo quando nem era a ASP quem homologava os campeonatos, e sim a IPS - International Professional Surfers), transformando o país numa das maiores potências do surfe.

Para os viciados em água salgada de plantão, calma! Não estou esquecendo de um dos maiores ídolos das pranchinhas... Mark Occhilupo! Era exatamente aí onde eu queria chegar. Dono do mundo em 1999, o título do Occy tem um gostinho especial para a minha família.

Quem se lembra da conquista do "Touro Indomável" no Rio de Janeiro ?? Pois é, logo no começo da competição, um susto!! Um moleque de apenas 17 anos, competindo como convidado do evento em seu primeiro ano como profissional, quase colocou água no champagne do veterano. Raoni Monteiro (meu irmão, com muito orgulho!!) chegou sem pretensão nenhuma e levou a bateria na primeira rodada, jogando o cara para a repescagem. Já na terceira fase, Raoni não foi páreo para a experiência do australiano e encerrou sua participação por alí, deixando finalmente o caminho de Occy aberto para o tão esperando título mundial.

(Para quem quiser ver um vídeo do Raoni comentando as baterias desse evento, só clicar aqui ir direto para o Youtube)

Mas... Por que o título mundial foi tão esperado???

Após transformar-se em um dos maiores nomes do cenário internacional do surfe, Occy entrou numa bela duma depressão e as competições eram as últimas coisas em que ele queria ouvir falar...

De carona em um dos meus textos para o Woohoo (estou com saudades da minha Redação querida), segue um pouquinho dessa fase Occy de ser.

"Em 1987 Mark Occhilupo começou a mostrar sinais de instabilidade. Mudou-se temporariamente para a costa Norte de Oahu, no Havaí, anunciou sua aposentadoria e logo voltou atrás, e já não vencia mais campeonatos como quando surgiu para o mundo do esporte. Occy começava a perder o foco e o interesse pelas competições. De uma vida leve, baseada na Yoga, ele passou a consumir cada vez mais cigarros, bebidas alcoólicas e outras substâncias prejudiciais a sua saúde. A morte de seu pai foi outro fator que o fez hibernar por algum tempo, como ele mesmo mais tarde declarou. Com o passar dos meses, o grande fenômeno australiano e provável campeão mundial já tinha ultrapassado os 100 Kg e desabou para o número 490 no ranking, abandonando de vez o Tour em 1990.


Várias tentativas de retorno ao Circuito foram frustradas. Em 92, ano em que a ASP criou as divisões WCT e WQS, Occy chegou a vencer um evento do Tour de acesso em Newquay, na Inglaterra, mas nada o fazia sair daquela depressão. Em 1993 ele casou com Beatrice Ballardie, construiu uma casa perto de Kirra, na Austrália e, no ano seguinte, começou a sua batalha para recuperar a forma física. Num trabalho de apoio feito pelo videomaker Jack McCoy, em conjunto com seu terapeuta e a Billabong, ele começou a perder peso lentamente e declarou que esse tempo fora do Tour lhe serviu para ter uma visão mais clara de seu objetivo: para dominar o Circuito Mundial, precisava voltar de forma espetacular.


Seu patrocinador percebeu que tinha em sua equipe um dos melhores surfistas de todos os tempos e não queria perdê-lo. Foi então que Occy gravou os vídeos “Green Iguana” e “Pump”, onde rodava o mundo mostrando o melhor do seu free surf. Esse vídeos rodaram o mundo inteiro e a comunidade do esporte percebeu que, mesmo afastado das competições, Occy ainda estava quebrando. Esse incentivo foi muito positivo para a recuperação da auto estima do cara.


Foi então que em 1997 ele completou uma temporada inteira do calendário da ASP, feito que não acontecia há 10 anos, terminando como vice do virtual eneacampeão mundial, o norte-americano Kelly Slater. De maneira espetacular, Mark Occhilupo estava retornando ao time de astros da Association of Surfing Professionals!"

Bom, foi aí que o título veio, em 99, e após isso, eu só tenho a reverenciar o cara! Com aparições em dúzias de vídeos de surfe, autobiografia ("Occy, o ano do Touro"), fotos em revistas especializadas, apresentando de programa de TV, etc, etc, etc... eu gostaria de concluir que....

... fazendo parte das competições pelo mundo desde os 15 anos de idade, o australiano Mark Occhilupo redefiniu a alta performance no esporte por pelo menos duas gerações!!! A facilidade para manobrar de backside transforma a plasticidade de seu repertório num espetáculo à parte.

Eu só espero encontrar o cara qualquer dia desses surfando em alguma praia perto da minha nova casa... (ainda tenho chances por 1 ano)